Depois de pouco mais de uma semana de publicada oficialmente pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária, a medida que proíbe cirurgias plásticas estéticas em cães e gatos fez com que alguns criadores considerassem a possibilidade de levar seus cães para fazer essas cirurgias no exterior.
Segundo um veterinário que preferiu não se identificar, com a decisão, o mercado paralelo que executa as cirurgias está trabalhando muito mais. “Como profissionais não podemos mais executar o serviço por causa da determinação, mas os leigos continuam a fazer a mesma coisa”, conta ao G1.
Devido à exigência de algumas características de cada raça, como no caso dos dobermans com o corte das orelhas, o veterinário diz que alguns criadores já estão se mobilizando para executar esse serviço na Argentina. “Essa decisão só polemizou a ação, mas os donos e criadores continuam querendo as mesmas peculiaridades da raça”, afirma.
Ainda de acordo com o veterinário, que é criador de dobermans há 24 anos, a cirurgia não traz nenhum risco ao animal e tem cicatrização muito rápida. “O corte da orelha dos dobermans, por exemplo, acaba por proteger o animal. Evita machucados na orelha, permite mais higiene e aumenta a imunidade dos cães”, explica.
Já para a veterinária Júlia Maria Matera, professora do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Veterinária da Universidade de São Paulo (USP), a cirurgia estética como forma de higiene e bem-estar para os cães é um equívoco. “A cirurgia gera um sofrimento para o animal e, além de não ter nenhum benefício, pode ser feita de forma inadequada. Com o corte de orelha você expõe o conduto auditivo do cão e tira a proteção dele”, diz a especialista ao G1. Segundo Júlia, a USP não executa cirurgias plásticas estéticas em animais desde a década de 90.
Ainda de acordo com a professora, a retirada das unhas de gatos é o pior dos procedimentos proibidos pelo Conselho. “Sem as unhas, o gato não consegue mais pertencer ao seu habitat natural. As unhas não servem apenas para defesa, mas permitem que o animal se movimente melhor e sem elas ele perde parte de sua mobilidade”, explica.
Com relação ao corte da cauda de algumas raças de cães, Júlia esclarece que o procedimento também é prejudicial ao animal. “A cauda é um instrumento de demonstração de algumas situações por que o cão passa e é também o ponto de equilíbrio do animal”, destaca.
Júlia afirma que, mesmo com as orelhas inteiras, os cães podem participar de disputas e exposições internacionais. "Hoje em dia esse padrão não é mais motivo para a desclassificação dos cães. Eles podem participar.", diz.
BenefíciosA fisioterapeuta Luciane Collich, que cria dobermans há cerca de 20 anos, conta ao G1 que o único de seus cães que não teve a orelha cortada enfrentou problemas. “Era o primeiro cão da espécie que eu tive e, por dó, acabei deixando as orelhas, mas ele pagou um preço bem caro. Teve ruptura de uma artéria na orelha, além de problemas com higiene”, diz.
Luciane mora em uma chácara e afirma que, como outros criadores, pretende se mobilizar para reverter a medida. “Para nós é muito problemático, por uma questão de higiene. Além disso, a cirurgia pode favorecer o bem-estar do animal também”, afirma.
Questionada sobre a possibilidade de levar os filhotes de sua próxima ninhada para o exterior, Luciane diz que, se não houver a suspensão dessa medida, alguma alternativa será encontrada por ela e por todos os outros criadores. “É óbvio que os criadores vão acabar optando por isso. Esteticamente é necessário para criadores que expõem seus cães, e é melhor por causa da saúde, então você acaba tendo que ir para o Uruguai ou a Argentina, que são países próximos onde as cirurgias são autorizadas.”
E desabafa: “Eu corto as orelhas de meus cães há anos com o mesmo profissional, que é próximo. Agora, além de ter que ser com um desconhecido, não teremos acesso a uma assistência posterior. O conselho tem que pensar melhor nessa decisão porque muitos cães vão ficar prejudicados e muita gente vai ganhar dinheiro sem poder com isso”.
ProibiçãoDesde 19 de março, o Conselho Federal de Medicina Veterinária proibiu as cirurgias estéticas em animais. A partir de então, procedimentos como corte de orelhas de cães e retirada de unhas de gatos só devem ser feitos com recomendação do veterinário, e não por critérios de estética. Antes da medida, as cirurgias estéticas em cães e gatos eram feitas facilmente; bastava o dono ir a uma clínica e demonstrar o desejo de mudar o visual do bichinho de estimação.
Segundo o presidente do Conselho, o veterinário Benedito Fortes de Arruda, a medida pretende preservar os animais. “Nós entendemos que o animal deve ser respeitado e considerado como um ser que sente dor e angústia. Como veterinários, somos responsáveis pelo bem-estar do animal, por isso, por se tratarem de cirurgias que não trazem nenhum benefício, apenas estético, entendemos que tudo aquilo que marca e impede o comportamento natural do animal deve ser evitado”, diz ao G1.
Ainda de acordo com Arruda, os veterinários que não cumprirem a proibição estarão sujeitos a um processo ético profissional, além da aplicação de uma multa.
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