Saiba como preparar o cão para a chegada do bebê

A chegada de uma criança mexe com toda a família e afeta também os animais. Nem todo cão gosta de "dividir" o dono com outros adultos e quando a atenção é compartilhada com um pequeno ser, que de repende invadiu a casa, chora e tem um cheiro estranho, todo cuidado é pouco.

Especialistas em comportamento animal são unânimes: o bicho não pode ser esquecido e, como um "irmão mais velho", precisa ser preparado para a chegada do bebê.

O veterinário especialista em comportamento animal Mauro Lantzman diz ao G1 que a preparação deve começar antes do nascimento do bebê, quando a mulher descobre a gravidez.

“Não dá para se preocupar só depois da chegada da criança. O animal era o centro das atenções, foi mimado, tem até lugar no sofá. De repente, o dono resolve mudar a rotina dele. Proíbe tudo, coloca para fora de casa e não dá mais atenção. Isso não pode acontecer”, diz Lantzman.

A psicóloga e médica veterinária especialista em comportamento animal Hannelore Fuchs explica que qualquer mudança na rotina deve ser feita de maneira gradual, durante a gravidez. “O ideal é evitar mudanças drásticas na rotina para que o cão não sofra. Quem passava muito tempo com o cão tem de diminuir a convivência aos poucos até que ele consiga ficar sozinho, mas jamais esquecê-lo.”

Para que não estranhe a chegada do bebê, o cão precisa participar do convívio familiar e entender que a casa terá mudanças. Uma das sugestões de Lantzman é deixar o cão cheirar o enxoval e os objetos do bebê. “É indicado mostrar as peças de roupa, o quarto do bebê, compartilhar as coisas novas. Com essa percepção de odor, o cão começa a se habituar. É como explicar a ele o que está acontecendo.”

A instalação de grades móveis entre os cômodos da casa é uma forma de separar de um jeito menos drástico, conforme explica Hannelore. “As grades são boas opções, pois separam fisicamente, mas ao mesmo tempo o cão consegue ouvir e sentir o cheiro.”

Outra estratégia para lidar com cães mais possessivos é usar uma boneca como se fosse uma criança, durante a gravidez. “É possível pegar a boneca e fazer de conta que é um bebê, para o cão se acostumar. Ele vai perceber que o colo da dona vai ser compartilhado. Agora, o dono é que vai convidá-lo no momento de receber carinho”, diz Hannelore.

A orientação fundamental é que os donos nunca devem deixar o bicho, por mais confiável que seja, sozinho com o bebê. “Não é fácil e não adianta pensar que não haverá problemas. O dono vai ter que treinar e supervisionar o animal, ajustar a rotina do bicho com a de um bebê e isso é muito complicado”, diz Hannelore.

Miguel e Pitanga

A dona-de-casa Rita Gomes, de 35 anos, foi protagonista de uma experiência positiva. Dona da vira-lata Pitanga, hoje com 4 anos, ela e o marido tiveram um árduo trabalho para adaptá-la à chegada de Miguel, de 1 ano e meio, mas conseguiram.

A gravidez de Rita não foi planejada. E, logo no primeiro dia em que ela se descobriu grávida, o casal começou a preparar Pitanga.

Segundo Rita, Pitanga foi adotada castrada aos 6 meses e vivia no apartamento do casal, sem contato com estranhos. Ela nunca avançou em crianças, mas ficava agitada. “Tentamos não mudar a rotina. Ela sempre teve livre acesso a todas as áreas da casa e pensamos muito nisso. Até hoje, é ela quem dorme na cama com a gente e o Miguel fica no berço”, diz Rita.

Ela conta que sempre permitiu que Pitanga cheirasse o enxoval. Ela pôde até entrar no berço do bebê.

“No dia em que Miguel nasceu, meu marido trouxe a frauda para Pitanga cheirar e veio dormir em casa para não deixá-la sozinha, enquanto fiquei no hospital com um tio. Quando recebi alta, eu cheguei em casa com o Miguel no colo. Ela estava no colo do meu marido e, primeiro, cheirou o bebê. Depois, começou a lamber e então começou a paixão dos dois”, diz Rita.

Rita afirma que o segredo para uma convivência harmônica é o respeito. “Pitanga é da família tanto quanto o Miguel. Não crio diferença entre eles. Trato ela como se fosse gente e ela me entende como se fosse gente.”

Rita se orgulha em dizer que é mãe de dois filhos, Pitanga e Miguel. Mas como em qualquer família, ela teve de enfrentar uma briga de irmãos. “Um dia, estávamos na cama, ele pulou e se jogou em cima dela algumas vezes. Para se defender, ela mordeu de leve, mas o ferimento chegou a sangrar. Depois desse incidente, percebemos que ele estava avançando no território dela. Agora, não deixo os dois sozinhos.”
Convivência impossível

Há casos em que a convivência é impossível. Muitos cães são agressivos, vivem isolados de estranhos e podem estranhar tremendamente uma criança. Não é aconselhável forçar uma adaptação. “Há bichos terríveis, difíceis de socializar. O gestual de uma criança, a falta de coordenação, a gritaria podem irritar um animal. É indicado que a condição do bicho seja avaliada por um veterinário”, diz Lantzman.

Gatos

De acordo com Lantzman, gatos são muito territoriais e a chegada de qualquer um - seja bebê, adulto ou outro animal - pode levá-lo a ter um comportamento territorial mais acentuado, que pode incluir a agressividade. Uma das orientações é castrar o animal, porque interfere na agressividade e ele se torna mais aceitável em relação à questão de território.

Matéria de Luciana Rossetto, do G1